O Brasil saiu do mapa da fome, elaborado pela FAO desde 1990, pela primeira vez em 2014. Os cortes significativos nos programas sociais são uma das preocupações da organização.

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O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, disse esta quarta-feira, em Lisboa, que o crescimento económico é uma das formas para o Brasil não correr o risco de voltar a integrar o mapa da fome.

“Eu tenho discutido muito isso (da possibilidade do Brasil voltar a integrar o mapa da fome, organizado pela FAO) e acompanhado, muito de perto, os números. O Brasil tem mostrado números muito ruins nos últimos meses (…). O crescimento é um caminho, poderá ajudar o Brasil a sair desta dificuldade neste momento”, disse o brasileiro, eleito diretor-geral daquela agência da ONU em 2011.

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) falou aos jornalistas depois da sessão de encerramento da Reunião de Alto Nível sobre Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que se realizou entre segunda-feira e este dia na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O Brasil saiu do mapa da Fome (elaborado pela FAO desde 1990) pela primeira vez em 2014, quando 3% dos brasileiros sofriam de uma restrição alimentar severa. Um país com mais de 5% da população subalimentada entra para o mapa da FAO.

De acordo com o Banco Mundial, cerca de 28,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2014, mas também avalia que, em 2016, entre 2,5 milhões e 3,6 milhões de pessoas voltaram a viver abaixo do nível de pobreza.

José Graziano da Silva referiu, recentemente, aos meios de comunicação brasileiros que estes 2,5 a 3,6 milhões de pessoas fazem parte de uma população flutuante que vive em torno da linha da pobreza. São pessoas que não conseguiram vencer ainda a pobreza extrema.

“Agora aparece uma nova esperança com as projeções de crescimento para este ano de 2018 e para o próximo. O Brasil tem uma população muito jovem, então o país tem de crescer num ritmo maior em relação à taxa de crescimento da população jovem. Isso significa crescer, pelo menos, 2% ao ano, coisa que não acontece há três anos”, referiu Graziano da Silva.

“O crescimento do desemprego preocupa-nos muito e principalmente, preocupa-nos os cortes dos programas sociais por dificuldade fiscal que o Governo enfrenta neste momento. Estas situações é que são a grande ameaça”, indicou o diretor-geral da FAO, que foi um dos principais elementos da elaboração do programa Fome Zero, lançado no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), com o objetivo do combate à fome e as suas causas estruturais.

No Brasil em 2003, existiria cerca de 44 milhões de pessoas ameaçadas pela fome. Hoje, o programa do Governo de Lula da Silva chama-se Brasil Sem Miséria — criado em 2011 ainda no Governo de Dilma Rousseff (2011-2016) — e continua a implementar uma série de medidas do Fome Zero, como o Bolsa Família (programa de transferência de renda para famílias carenciadas).

Entretanto, com a crise económica que abala o Brasil, o Governo do Presidente Michel Temer fez cortes significativos nos programas sociais.

Na sessão de encerramento da Reunião de Alto Nível sobre Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável na CPLP foi assinada pelos membros de cada país do bloco lusófono, e também por José Graziano da Silva, a Carta de Lisboa pela Agricultura Familiar na CPLP.

Observador
http://observador.pt/2018/02/07/crise-economica-pode-voltar-a-colocar-brasil-no-mapa-da-fome-segundo-a-fao/